sábado, maio 13, 2006

Lavadeira

Lavava roupa lavando a roupa, que diacho a mais precisaria fazer. Lavava a roupa. A janela a frente. De frente pra rua. De olho na vida. A vida passava. A roupa lavava. Esfrega, esfrega. Gente pra tudo lado. Quem eram? Pra onde iam? Que importa, importante é lavar roupa, o seu ganha pão. Muita gente passava, uns conversava. Ouvia sobre religião, saúde, política, economia, lugares longínquos. Mas não prestava atenção em nada. Que lhe importa. A patroa havia de se irritar. Lavava mais rápido. O medo de ouvir. O medo do novo. O medo do saber. Esfrega quieta, vamos! E assim passava os dias, no lavar da roupa, lavando roupas, calada, fazendo-se de surda, lavando as roupas. A vida estava na repetição e não tinha a menor graça.

0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home