quinta-feira, maio 18, 2006

A Bóia

Alto mar. No meio do imenso nada, bóia, nada uma bóia. O azul do céu confunde-se com o azul do mar e, sem perceber a diferença, a bóia segue cega, indiferente. Ora a maré a leva para lá, ora para cá, sempre para nenhures. O fluxo do fluido é incompreensível, complexo para quem bóia. O ritmo constante: chuá, chuá, sei lá.
Eterno sobe-e-desce-sobe-e-desce-sobe. O estático movimento mascara a solidão. Ser irracional, a bóia não tem como fugir do nada, nem teria como. Terá como? O úmido deserto é o infinito, muito mais que o infinito: o instantâneo. Nada que é eterno tem valor ao ser boiante, águas passadas são esquecidas (e absurdamente iguais às presentes).
As profundezas são obscuras. O céu, profundo. A esperança é verde, o mundo é azul. Pouco importa ao mar quem bóia, o importante é que bóiem, o impossível é que não bóiem. Todas as leis da física parecem querer tornar a bóia um ser boiante.
Mudando a situação um possível happy end parece aparecer. A sombra da praia é traçada no horizonte, no vertizonte de uma verde vertigem. Seria a praia verdadeira ou enfim surgia um oásis seco? A bóia se anima, se animaliza, se humaniza. Fede no ar a fé de sua esperança.
A praia mais perto, mais perto, mais longe? A correnteza muda de direção. O sonho de liberdade se torna um sonho. Psicose paranóide do ovóide boiador. Ilusão provocada pelo mar, que carece ver a bóia alucinada, enganada, distante de seu fluir. Próxima de seu fluir, sem, contudo, entendê-lo.Continua então a bóia a cumprir a sua senóide sina. Sem esperança. Esperando uma nova esperança, até o dia em que irá se esvaziar, afundar, tornar-se mais um produto não biodegradável poluindo o lindo negro mar dos navios petroleiros.

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