domingo, abril 09, 2006

Amnésia

Abriu os olhos, mas a luz da memória não clareou sua retina. Não se lembrava mais de quem era, como era, quanto era. Percebeu logo estar num hotel barato, tanto pela mau acabamento do quarto quanto pelos gemidos de um casal no dormitório ao lado. Meu Deus, quem sou eu. Levantou-se da cama numa ação mecânica, com um grito desesperado no meio da escuridão.
Achou no canto uma mala que deveria ser sua. Só podia ser sua, não havia mais ninguém no quarto. Começo a pesquisar suas coisas. Roupas chiques, um maço de cigarros vagabundos e um único charuto, cubano legítimo. Ficou inquieto, o contraste não fazia sentido, nada tinha nexo. Tentava, mas a memória não lhe vinha na memória.
Por fim encontrou uma carta, beijada por lábios de mulher e cujo perfume exalado mostrava a delicadeza de mulher. “Amor, não importa o que aconteça estarei sempre contigo”. No verso, estava escrito “de Pámela com todo amor para...”, justo no seu nome a carta estava rasgada. Pámela, Pámela, Pámela...Ela deveria ser a resposta para as perguntas, o ponto final que daria reinício ao eu.
Onde localizar essa mulher. Momento raro daqueles tesões instintivos, mais vinculado ao desejo de aventura do que ao sexo. Pámela, iria encontra-la, descobrir quem era ela e que ele era. Estava para sair quando viu atirada no chão uma foto de mulher, só podia que devia ser a Pámela, meu Deus que mulher bonita, meu Deus que sorte tive, vou procurá-la. O grito no silêncio. Pámela, Pámela.
Na saída pagou o hotel e lhe sobrou uma nota de dez reais. Não sabia por como começar sua busca. De repente viu seu rosto fora dos espelhos, numa tela de TV exposta numa loja com a seguinte escritora no rodapé: “milionário perde tudo”. Sai numa corrida sem sentido. Pámela, me ajude. Pámela, Pámela... A busca do suposto amor virou loucura, tão intensa que o desejo pela mulher renderia páginas e páginas de um livro de Alencar. Pámela, o grito quebra a poesia, quebra até a lógica. Ela se tornou seu único Deus, a forma de lembrar o que era, meu Deus, Minha Pámela, me ajude.
É em segundos que a história se conta e, subitamente, ele pulou em frente a um carro em movimento acelerado. Não se sabe ao certo, mas deve ter lembrado de tudo, suas últimas palavras foram, “Pámela você me paga”.

1 Comentários:

Blogger Gui disse...

Olhaaa.. texto novo no Mosaico..
Hum, o começo do texto parece muito com história tipo Crimsom Room! c[=
O texto ficou bem, ahn, surreal, bem no estilo neopoísta! Ficou legal, gostei!
Bom, inté! Poste sempre! \o_

9/4/06 9:29 PM  

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